quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

violencia infantil

Violência Infantil
Maria de Fátima Hiss OlivaresPsicologa clínica
Nunca se falou tanto de violência contra crianças como na atualidade. Será que a população abriu os olhos só agora? Será que é uma conseqüência da realidade violenta que vivemos? Seja como for, é um assunto que merece uma análise mais apurada e certamente deve interessar a todos.
A violência contra crianças é uma forma cruel de violência pois a vítima é incapaz de se defender. E geralmente os agressores são as pessoas em quem a criança mais confia, como os pais ou parentes próximos. Imaginem como fica a cabecinha de uma criança que sofre agressão da própria mãe. A mãe é o primeiro contato com a confiança, com a proteção, com o amparo, e se estes vínculos são quebrados, esta criança sofrerá as conseqüências disso até a vida adulta. Infelizmente, muitas vezes a criança acaba se achando merecedora de tais punições, pois não compreendendo o porquê disso, atribui a culpa a si mesma.
As formas de violência contra a criança podem ser físicas ou psicológicas. Na categoria da violência física podem estar os castigos, como tapas, murros, chacoalhões, onde os adultos covardemente violentam a integridade física da criança. Podem até não ter a intenção de ferir, mas acabam cometendo o fato e fica claro nestes momentos, o descontrole emocional deste adulto. Geralmente, o fato que levou o adulto a agredir a criança é banal e faz parte do mundo infantil, como por exemplo, a criança ter derrubado alguma coisa, estragado algo, não entendido uma ordem ou ter brigado com irmãos. Crianças são crianças e ainda não têm compreensão de muitas coisas, também não possuem ainda o controle completo sobre seu corpinho, que ainda está se formando. Não adianta querer que a criança aja como o adulto que ela não é.
Infelizmente estes atos violentos são repetitivos e a sua severidade tende a aumentar a cada nova agressão. Muitas crianças portam consigo seqüelas físicas que não chegam ao conhecimento das autoridades porque são encobertos pelos próprios pais ou tutores, que muitas vezes julgam estas atitudes como normais, ou que fazem parte da educação que estão dando aos filhos. A forma mais comum de se justificarem é a alegação de que seus pais também foram violentos com eles, e que se tornaram “adultos bons” por causa disso. Esta tendência a perpetuar este modelo violento pode colocar em risco o futuro dos filhos, pois tenderão a fazer a mesma coisa quando se tornarem pais. A solução de problemas e conflitos pela força ou pelo grito só forma adultos inseguros, doentes e infelizes.
Dentre as outras formas de violência infantil estão a hostilidade verbal, negligência, o abandono físico e emocional, a rejeição, o desprezo, a crítica excessiva e a ameaça de abandono.

Hostilidade verbal: são os gritos, xingamentos, com palavras de teor hostil que ameaçam a criança.

Negligência: o adulto responsável deixa de prover as necessidades básicas para o desenvolvimento físico ou psíquico da criança. O filho passa a ser um “estorvo”, pois demanda atenção por parte dos pais. Estes podem se justificar com a necessidade de trabalhar e não ter tempo nem condições financeiras para prover tudo que a criança precisa. Negligenciam a atenção também quando estão por perto.

Desprezo: este tipo de violência aparece quando o adulto deprecia qualquer tentativa da criança de tomar iniciativas, não dá valor às idéias e opiniões que o filho expresse e compara-o a outras crianças menosprezando-o sempre.

Abandono físico e emocional: Sejam quais forem as justificativas, o abandono físico se dá quando os pais que se ausentam por longos períodos, deixando os filhos aos cuidados de outras pessoas, nem sempre capazes, expondo a criança a toda sorte de infortúnios. A ameaça de abandono também é extremamente prejudicial à criança gerando nela muita insegurança e medo, e se dá quando os pais a querem castigar, dizendo que irão entregá-la à adoção, ou mandá-la embora se ela não agir de determinada maneira.

Rejeição: a criança passa a ser desprezada, seus atos sempre reprovados e demonstrações de carinho se tornam raros. A criança passa a se sentir um erro e se culpa por existir, e as atitudes dos pais intensificam este sentimento da criança.

A crítica excessiva: ocorre quando tudo que a criança faz nunca está bom o suficiente. Geralmente estas crianças são vítimas de pais excessivamente perfeccionistas e inseguros.

As crianças vítimas de violência acabam apresentando dificuldades na escola, para dormir, muitas vezes com terror noturno, falta ou excesso de apetite, falta de concentração, podem ficar muito tímidas e reclusas, com dificuldade em se relacionar com outras crianças, ou tornam-se muito agressivas e repetem a violência com outras crianças, como irmãozinhos menores.
Educar uma criança é dar o continente seguro que ela precisa para crescer. A casa não pode ser uma ameaça. Criança precisa de limites, mas com compreensão, com diálogo e principalmente com exemplos. Nunca, mas nunca mesmo se deve bater em uma criança, é covardia! Pois se trata de um ser que não tem condições nem físicas nem psicológicas de se defender. Toda forma de agressão, seja ela física ou psicológica mostra a desestruturação e fragilidade emocional destes adultos, que deveriam rever suas atitudes e sua vida

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